quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A preocupação da indústria de cosméticos com a sustentabilidade da cadeia produtiva

A preocupação com as cadeias produtivas nas indústrias de cosméticos, incluindo a sustentabilidade da produção de ingredientes da biodiversidade, o respeito as comunidades produtoras, o comércio ético e a importância de processos garantidos por sistemas reconhecidos de certificações e verificações, foi um dos destaques na In-Cosmetics 2013, feira internacional que aconteceu em Paris.

O evento é um dos mais importantes do setor e reuniu cerca de 600 empresas fornecedoras de matérias-primas e ingredientes para as indústrias de beleza, higiene e cuidados pessoais, de mais de 40 países. Entre os destaques estava a garantia de origem dos ingredientes, valorizando regiões produtoras e seus fornecedores, como Taiti, Andes, Marrocos, Madagascar, Pacífico e, claro, Amazônia.

Ao observar mais atentamente o setor, fica claro o potencial que este tem de demandar cada vez mais ingredientes da biodiversidade e, consequentemente, de influenciar positiva ou negativamente a conservação dos recursos naturais e uma comercialização pautada em princípios éticos, principalmente das matérias-primas provenientes de comunidades tradicionais, pequenos produtores e povos indígenas, como acontece em grande parte da Amazônia brasileira.

É reconhecido, inclusive no meio acadêmico, o relevante papel dessas comunidades tradicionais que conseguem há gerações conciliar conservação de seus territórios e florestas com a coleta destes recursos, que são repassados de pais para filhos e que constitui a base para a manutenção dos meios de vida e cultura dessas populações.

Contudo, também se sabe que a maioria destes produtos, demandada dentre outros pelo setor de cosmético, ainda é comercializada, em grande parte, de forma extremamente informal. Em geral, as negociações são realizadas por atravessadores que oferecem baixíssima remuneração pelos produtos, gerando pouco ou nenhum benefício social e econômico para essas populações.

Experiências diferenciadas de comercialização vêm sendo medidas na região da Terra do Meio e da Calha Norte paraense, pelo Imaflora, organização não governamental brasileira, e parceiros locais, mostrando que o setor tem buscado formas inovadoras de relacionamento com esse público.

A relação diferenciada inclui a aproximação e a negociação direta das empresas com as comunidades, balanceada pela presença de instituições da sociedade civil nos processos de negociação, gerando acordos construídos coletivamente, que incluem estabelecimento de preço justo e de requisitos como prazos, volumes, qualidade e processamento que respeitem o modo de vida tradicional.

O resultado tem sido contratos cumpridos, geração direta de benefícios econômicos e sociais, transferência de tecnologias, garantia de fornecimento e origem e contribuição com a conservação dos territórios e florestas.

A preocupação com uma cadeia de fornecimento mais ética parece ser uma tendência não somente do setor de cosméticos, que consome ingredientes naturais, mas também do consumidor, inclusive o brasileiro.

Em um estudo lançado recentemente pela UEBT (União para o BioComercio Ético), que avalia o conhecimento sobre a biodiversidade ao redor do mundo, 84% dos consumidores afirmaram que deixariam de comprar produtos da indústria de beleza se soubessem que as empresas não adotam boas práticas ambientais e éticas.

O Brasil aparece também em destaque na pesquisa sobre conhecimento da biodiversidade, como sendo o país onde os consumidores detêm o maior conhecimento sobre o conceito de biodiversidade (96%), seguido pela França (95%) e China (94%).

Os consumidores se modificaram nos últimos anos, estão mais exigentes e preocupados com qualidade, ética e impacto ambiental.
E as empresas serão cada vez mais cobradas e terão de se preparar para demonstrarem, de forma transparente, seus processos produtivos.

Por: PATRÍCIA COTA GOMES

Fonte: Folha Online

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