sábado, 19 de outubro de 2013

O Pequeno Sítio



Um filósofo passeava por uma floresta com um discípulo, conversando sobre a importância dos encontros inesperados. Segundo o mestre, tudo que está diante de nós nos dá uma chance de aprender ou ensinar.

Neste momento, cruzavam a porteira de um sítio que, embora muito bem localizado, tinha uma aparência miserável.
- Veja este lugar - comentou o discípulo.
- O senhor tem razão:

Acabo de aprender que muita gente está no Paraíso, mas não se dá conta, e continua a viver em condições miseráveis.
- Eu disse aprender e ensinar, retrucou o mestre.
- Constatar o que acontece não basta:

É preciso verificar as causas, pois só entendemos o mundo quando entendemos as causas. Bateram à porta da casa e foram recebidos pelos moradores.


Um casal e três filhos, com as roupas rasgadas e sujas.
- O senhor está no meio desta floresta, e não há nenhum comércio nas redondezas disse o mestre para o pai de família.

- Como sobrevivem aqui?
 
E o senhor, calmamente, respondeu:

- Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos; com a outra parte nós produzimos queijo, coalhada e manteiga para o nosso consumo. E assim vamos sobrevivendo.


O filósofo agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos e foi embora.

No meio do caminho, disse ao discípulo:
- Pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali em frente e jogue-a lá embaixo.

 
- Mas ela é a única forma de sustento daquela família!

O filósofo permaneceu mudo. Sem ter outra alternativa, o rapaz fez, o que lhe era pedido, e a vaca morreu na queda.
 
A cena ficou marcada na memória daquele rapaz. Depois de muitos anos, quando já era um empresário bem-sucedido, resolveu voltar àquela mesma casa, contar tudo à família, pedir perdão e ajudá-los financeiramente.


Qual não foi sua surpresa ao ver o local transformado num belo sítio, com árvores floridas, carro na garagem, e algumas crianças brincando no jardim.
Ficou desesperado, imaginando que a família humilde tivera que vender o sítio para sobreviver. Apertou o passo, e foi recebido por um caseiro muito simpático.


- Para onde foi a família que vivia aqui há dez anos?
- Perguntou:
- Continuam donos do sítio - foi a resposta que recebeu.

Espantado, ele entrou correndo na casa, e o senhor o reconheceu.
 
Perguntou como estava o filósofo, mas o rapaz estava ansioso demais para saber como conseguira melhorar o sítio e ficar tão bem de vida:

- Bem, nós tínhamos uma vaca, mas ela caiu no precipício e morreu - disse:
O senhor. - Então, para sustentar minha família, tive de plantar ervas e legumes. As plantas demoravam a crescer, e comecei a cortar madeira para vender.

Ao fazer isso, tive de replantar as árvores, e então precisei comprar mudas. Ao comprar mudas, lembrei-me da roupa de meus filhos, e pensei que podia talvez cultivar algodão.

Passei um ano difícil, mas quando a colheita chegou, eu já estava exportando legumes, algodão e ervas aromáticas.
Nunca havia me dado conta de todo o meu potencial aqui:
 
Ainda bem que aquela vaquinha morreu.


Autor desconhecido

Livro: HISTÓRIAS PARA PAIS FILHOS E NETOS - PAULO COELHO - PÁG. 154

Curso de Qualidade de Vida no Trabalho 

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