terça-feira, 17 de setembro de 2013

Entrevista com um Pároco - Padre Jair Carlesso




Entrevistar um pároco. O questionário deverá abordar assuntos temáticos como:
O pecado original, a tradição apostólica, as relações entre fé e razão, as heresias e o que você achar interessante.
Eu e a Regiane entrevistamos o Padre Jair. Pároco da cidade de Videira e com muito orgulho meu aluno de Matemática de Ensino Fundamental.



DADOS DO ENTREVISTADO: 
Entrevista Como o Padre: Jair Carlesso
Local de atuação: Paróquia de Videira _ Santa Catarina
Tempo de serviço: nove anos.

1­- Segundo os ensinamentos, a morte de Jesus cristo teria sido necessária para salvar os seres humanos dos pecados? O pecado original continua a existir? Por quê o pecado origina continua a existir? 

R: Teria a morte de Jesus ser necessária como meio único da parte de Deus? Não. Porque Deus poderia em seu poder ter escolhido outro meio. Em seu atual desígnio, o fez por meio de Jesus Cristo, com sua morte, paixão e ressurreição, levando-se em conta que só o oferecido perdoa. E no caso do pecado, quem perdoa é Deus, o oferecido e só ele pode salvar da morte global, devolvendo o dom e a salvação à vida eterna.

O pecado original continua a existir?

R: Sem dúvida o pecado de origem é um fato histórico, dogma de fé. O fato histórico é inquestionável. O que se questiona é a consistência de sua natureza suas conseqüências. Quais e em que consistem? Nisto as interpretações variam e estão sujeitas ao critério do Magistério Oficial da Igreja, seja ele ordinário ou extraordinário, que se expressa através do organismo: papa em comunhão com os bispos, que são sucessores de Pedro e dos Apóstolos, apontados e dotados por Cristo com a devida competência e responsabilidade.

Por que o pecado original continua a existir?

R: A primeira razão consiste no seguinte: O homem foi criado bom segundo a natureza própria a ele. “Deus viu que tudo era bom”. Mas, além disso, Deus acresceu um dom extranatural, não necessário para existir. É o chamado dom sobrenatural, acrescentado gratuitamente à natureza humana, isto é, não faz parte da natureza. Esse dom consiste em ter sido criado em comunhão do amor com Deus e vocacionado a conviver com Deus. Isso é porque é Trindade de Deus. Diante disso o homem fazendo-se uso do dom natural da liberdade, levado pelo orgulho e desobediência rebela-se contra o senhorio de Deus, e quis se apoderar do dom da vida e construí-lo a seu bel-prazer. Quis ser absoluto não reconhecer a dependência de Deus. “Somos a gênesis de Deus...” (Gn. 3). Com essa rebeldia rejeita Deus, que se retirou pela ruptura da amizade e se concomungou caindo na inimizade, com a perda do Cristo ao convívio Com Deus na eternidade. Perdeu o homem como homem-espaço, o acréscimo gratuito. Continuava no seu modo no final, sujeito à inclinação de se opor a Deus e marcado pela tendência de não buscar o que é bom e que leva a Deus. A segunda razão é porque o pecado original atingiu Adão e Eva e toda sua descendência consiste no seguinte: esse dom gratuito não foi dado aos indivíduos Adão e Eva etc., mas foi incumbido na natureza humana, dom concedido à espécie humana. Pelo pecado de origem a humanidade perdeu a capacidade de viver proceder para a vida eterna. Restou-lhe a vida natural, que até nisto ficou desequilibrado e sujeita ao pecado pessoal, atingindo todos os indivíduos da espécie, que perdeu o dom no que se refere à eternidade com a comunhão e convívio na amizade com Deus.

Diz-nos o concílio de Trento com a Católica Romana: Não temas, portanto que o pecado original é transmitido com a natureza humana, “não por imitação, mas, por propagação”, a que ele é, portanto, “próprio a cada um”.

Resumindo, o dom primeiro, sobrenatural dava a espécie, simplesmente o “poder” de agir, e não só simplesmente o “agir”, mistério para a eternidade. Diz Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer...” Cristo restaura o poder e seu conseqüente fazer.

2- A igreja Católica deve seguir a Tradição Apostólica a risca? É totalmente dependente das orientações do papa e dos bispos, ou existe uma margem da atuação onde cada padre pode agir de acordo com seu entendimento?

R: Se for verdadeira a Tradição Apostólica reconhecida pela Igreja, sem dúvida que deve ser seguida. Antecedeu à Bíblia a Tradição Apostólica foi à fonte primeira da verdade, e nem tudo foi inserida na Bíblia, continuou a ser transmitida sob os cuidados da Igreja.

“É totalmente dependente das orientações do Papa e dos Bispos ou existe uma margem de atuação onde cada padre pode agir de acordo com seu entendimento?”.

R: Inicialmente, ressalva-se que a garantia de incumbência ao transmitir verdade de fé, foi entregue, no Magistério Ordinário, ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele. No Magistério Extraordinário, cabe ao Papa ouvindo falar “ex-catedra” e aos bispos com o Papa, em concílio em atitude definitiva da verdade de fé.

Quanto ao “se existe uma margem...”, é sabido que a verdade da fé foi entregue à totalidade da Igreja, para ser conhecida, transmitida e dela se alimentar. Então o Espírito acompanha a Igreja e os sacerdotes, onde existe uma mensagem de atuação de acordo com seu entendimento e preparo. Mas, isto supõe que se ela incide nisso, cabe as cidades do Papa e Bispos intervirem consideravelmente, com advertências e até correções, caminhando com o senso que a Igreja goza de certa liberdade, seguindo seu entendimento submisso ao senso da Igreja.

3- O estudo apostólico abrange a filosofia e a teologia. Seria o motivo principal deste estudo o entendimento da relação entre razão e fé? E como estas formas diferentes de compreensão convivem dentro da doutrina católica?

R: Em primeiro lugar o estudo de ambas na formação dos sacerdotes, favorece uma habilidade mental ao estudante provindo da natureza da filosofia.
Em segundo lugar, a filosofia é serva da Teologia e propicia elementos para entender que entre razão e fé não há contradição, bem como em todas as ciências em relação à fé, pode haver conflitos de compreensão e não quanto às verdades naturais da fé. O autor e criador de ambas, é Deus. E Deus não se contradiz.

Quanto à segunda parte da pergunta, quando há verdadeira detectação das verdades da ciência e da fé, não há problemas. A verdadeira ciência tanto natural como filosófica conciliam compreender a verdade da fé e interpreta-la de forma correta. Nessa dimensão a sã filosofia goza de relevância, essa, serva da Teologia, que trata de verdades que fogem ao poder da razão, mas uma razão habilitada pelas ciências ajuda a entender o alcance da verdade realidade, seja o entendimento que é progressivo e subsidiado pelas ciências.

4- Em que ponto da história da Igreja surgiu o celibato? Como ele é visto, hoje, pela Igreja? E como é vista, hoje, pelos padres?

R: Foi decretada para a igreja chamada Ocidental no Concílio de Elvira em 425.



“Como ele é visto, hoje, pela Igreja?”.
R: Pela Igreja Oficial continua com o mesmo valor de lei para os que permanecem no exercício do sacerdócio, e é concebido dispensa aos que não queiram continuar no exercício do mesmo.

“Como é vista hoje pelos Padres?”.

R: Os ex-padres, ou seja, os dispensados insistem em que a Igreja revogue ou o torne opcional para o clero diocesano. Quanto aos padres que continuam no exercício do sacerdócio, não há estatísticas definidas e oficiais. Mas, com certeza, para muitos seria bem-vinda a revogação do mesmo.

5- Sabe-se que a Igreja Católica passa por uma crise econômico-financeira e vocacional. Que ações, orientações vêem sendo tomadas? A Igreja Católica seria capaz de se reformular? De que maneira?

R: A questão da Igreja Católica quanto ao econômico-financeiro contou através dos séculos de variadas soluções, vindas dos governos civis, de doações de particulares e da contribuição das comunidades através de várias maneiras, dízimo, festas e outras promoções. Sempre enfrentou, através dos séculos dificuldades e preconceitos.

Hoje se insiste que cada comunidade local assuma a questão e encontre soluções. Insiste-se hoje no dízimo, onde cada membro participa da solução segundo suas posses. No Brasil é a contribuição mais atual e forte. A Igreja Católica sempre foi marcada pela renovação, em especial a espiritual e sabe-se “posicionar” de acordo com a época. Portanto não foi excluída a eclosão de soluções econômicas e financeiras. Cabe a Igreja ser aberta e humilde, reconhecer as carências e fraquezas, buscar soluções, se reformular. Acredito que a maneira mais viável e compartilhada é a evangelização promotora do dízimo, sempre mais organizada e atualizada, sem excluir outras possíveis e variadas soluções.


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As imagens são da Igreja Imaculada Conceição de Videira - SC.
Por: Elizabete Jackowski Moresco

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